MADRE CLARA MARIA DE AZEVEDO E SOUZA: No dia 27 de outubro de 1891, nasceu, na cidade de Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, a menina Morena de Azevedo e Souza. Filha legítima de Vasco de Azevedo e Souza e de Florinda de Azevedo e Souza. Dentre 18 filhos, ela ocupou o décimo lugar na distinta família, cujo pai destacou-se como ilustre político republicano, pessoa de "grande inteireza de caráter, tino admirável, de espírito bem orientado e sempre disposto à prática das virtudes sociais" (do Jornal Gazeta do Sul, 1909).
Morena nasceu no seio de uma família de fé cristã e recebeu o batismo na Igreja Matriz de sua cidade, São João Batista, no dia 26 de outubro de 1892. Ela foi crescendo em “sabedoria, estatura, graça” (cf. Lc 2,52) e no amor, particularmente a Cristo Eucarístico.
Deu início a seus primeiros estudos na Escola Complementar de Santa Cruz do Sul. Órfã de pai, falecido em 1909, transferiu-se com a família, para Porto Alegre, onde concluiu os estudos na Escola Complementar da capital, hoje, Instituto da Educação General Flores da Cunha, onde aprendeu a arte de ser exímia educadora. Recebeu, com nota de distinção, o Diploma de professora, em 24 de dezembro de 1917. A 18 de fevereiro de 1919, foi contratada professora de acordo com a disposição legal em vigor, aluna-mestra para “auxiliar o ensino no Colégio Elementar Fernando Gomes, em Porto Alegre, com a gratificação da respectiva tabela". Como consta no documento assinado por Hildefonso Pinto então intendente do Estado.
Trabalhou como funcionária pública até fins de 1928 quando deixou de ser educadora nas salas de aula, para ser humilde e atenta discípula do bom Mestre na concretização da Obra que, Ele, em suas mãos depositou.Dona Florinda Jabur Scandor, ex-aluna de Madre Clara, ao ser entrevistada em 22 de junho de1997, sobre as lembranças de sua admirável professora, deixa gravado o seguinte testemunho:
"Era ótima! Ela era muito bondosa. Era uma segunda mãe. Cuidava daquelas crianças como se fossem os filhinhos dela, se dedicava muito. Era muito competente, principalmente na parte espiritual, sempre fazia orações na parte da manhã, ao iniciar as aulas, e ao terminar as aulas. Quando havia uma aula vaga, de outra professora que não pudesse comparecer, ela aproveitava aquela hora, ensinava, dava catequese e preparava as meninas para a Primeira Comunhão e se interessava em que fossem boas filhas, que estudassem...”.
No desempenho de sua missão de educadora, realizada com carinho, capacidade e dedicação, Morena foi sentindo-se interpelada por Deus para algo mais... Sentiu-se vocacionada para consagrar a vida na Vida Religiosa. Na sua habitual atitude de prontidão, colocou-se inteiramente disponível diante de Deus e buscou a Congregação das Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã com as quais, desde longo tempo, mantinha contato e amizade. Convicta de que Deus a chamava para a Vida Religiosa Franciscana, e fortalecida na sua decisão pessoal, pediu ingresso e fora admitida àquela Congregação, como candidata, em 1925, por Madre Leta, Superiora Provincial na época. Porém, consciente de seu dever filial e da necessidade de socorrer sua mãe viúva no sustento da família, adiou indefinidamente o ingresso.
Neste tempo de espera, empolgou-se sempre mais pelo Carisma Franciscano. Ingressou na Ordem Terceira Secular, Fraternidade na qual a maioria das componentes era de origem estrangeira e, grande parte do conteúdo formativo era dado em língua alemã. Isto fez com que Morena aceitasse colaborar na criação de uma Fraternidade onde a língua nacional presidisse todas as realizações e garantisse maior compreensão e melhor aproveitamento espiritual. Auxiliou diretamente na formação da nova Fraternidade e foi nomeada pelo Assistente espiritual do grupo, o Capuchinho Frei Pacífico de Belevaux, mestra de noviças. Entre estas, teve a própria mãe e uma de suas irmãs.
No início de 1926, faleceu Dª Florinda, a mãe. A boa filha, agora, com a tranqüilidade do dever cumprido, prosseguiu na concretização de seu ideal vocacional. Neste mesmo ano houve em Porto Alegre a grande comemoração do 7º Centenário da morte de São Francisco de Assis. Frei Pacífico idealizou e coordenou as festividades. A professora Morena se empolgou e participou ativamente das comemorações, sentindo-se cada vez mais atraída pela espiritualidade franciscana. Ali que ela concebeu o ideal de fundar uma Congregação Religiosa brasileira com o espírito de Francisco de Assis. Ela mesma dá testemunho disso: "A ideia da fundação da Congregação nasceu por ocasião das brilhantes homenagens que Frei Pacífico organizara, comemorando o VII Centenário de São Francisco, em 1926" (de entrevista dada a Irmãs da Congregação).
Aos 17 de setembro de 1927, Morena tem um encontro significativo com suas quatro companheiras. Nesta reunião partilham o mesmo ideal de vida, as preocupações, os projetos e, finalmente, decidem formar a Entidade civil da futura Congregação. Na mesma ocasião decidem comprar um imóvel para ser a sede da Instituição. Em março de 1928, ainda em condição laica, Morena e suas primeiras companheiras abrem um Pensionato para atender jovens estudantes ou operárias oriundas do interior do Estado. Esta tornou-se, em 1935, a primeira obra apostólica do grupo que Morena dirigiu pessoalmente enquanto a obra existiu. Em 24 de junho de 1928, uma Missa presidida por Dom João Becker, Arcebispo de Porto Alegre, constitui-se o marco de fundação da Congregação. Deste dia em diante, Cristo Eucarístico tornou-se Hóspede em cada uma das Betânias como são denominadas as Casas na Congregação.
Morena foi uma mulher marcada pelo dom da sensibilidade cultural, por isso, teve especial atenção para com os aspectos culturais de seu povo: "a índole, o gênio, o temperamento e a saúde". Isto fez com que se preocupasse com o nascimento de uma Congregação genuinamente brasileira. Portadora, igualmente, de uma sensibilidade social muito grande quis uma Vida Religiosa a serviço das pessoas e classes "mais abandonadas, rejeitadas em toda parte".
Em 1931, aos 20 dias de fevereiro, com mais sete companheiras, Morena iniciava o noviciado, recebeu então o nome de Irmã Clara Maria. Em 04 de outubro fez a profissão Religiosa. Dezesseis anos depois, a Obra de Madre Clara tornou-se reconhecida como Congregação de Direito Diocesano, em 07/09/47. No mesmo ano, Capítulo Geral, com a presença de todas as Irmãs, confirmou-a para a diaconia de Superiora Geral, cargo que exerceu desde 1928 até meados da década de 1960.
Desde o início da Congregação, Madre Clara mostrou ser pessoa de intensa vida interior e de ilimitada confiança na Divina Providência, lastro de fé que lhe deu forças para superar os sofrimentos causados pelo abandono e solidão espirituais inerentes ao encaminhamento da Congregação nos seus primeiros passos.
Em1960, aceitou a postulação para o último sexênio, permanecendo, ao final dele súdita, dócil e obediente, renunciando a qualquer privilégio. Viveu na humildade, cultivando intensa vida de oração, marcada pela contemplação franciscana.
Em paz, virtude própria das pessoas que vivem numa profunda experiência de Deus, Madre Clara faleceu no Hospital São Francisco, em Porto Alegre, no dia 20 de novembro de 1975.Com a lâmpada acesa, Madre Clara parte para o encontro do Divino esposo; deixa em herança às suas seguidoras o perfume, a claridade de suas virtudes irradiadas em sua Obra e o compromisso de perpetuar o Carisma que o Senhor lhe confiou.